Gestores locais são líderes potenciais para a mudar a gestão das praias na América Latina

Fonte: AUN

A GESTÃO ECOSSISTÊMICA, QUE É ADAPTATIVA E PARTICIPATIVA, PODE SER UMA OPORTUNIDADE PARA A PRESERVAÇÃO DAS PRAIAS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE

Imagem: Pixabay

“Dentro dos sistemas costeiros, as praias têm um importante papel socioecológico” é o que conta Marina Corrêa, mestre em Ciência Ambiental pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP sobre as praias — foco de sua pesquisa realizada no instituto com orientação do professor Alexander Turra do Instituto Oceanográfico (IO-USP). As praias oferecem serviços ecossistêmicos, como provisão de alimentos, lazer, regulação biológica, regulação do clima, controle de doenças humanas e reciclagem de nutrientes.

Em seu estudo, intitulado Serviços ecossistêmicos e suas vulnerabilidades às mudanças climáticas: desafios e oportunidades para a gestão ecossistêmica de praias, Marina investigou os desafios e as oportunidades da implementação da gestão baseada em ecossistemas nas praias da América Latina e do Caribe. Esse tipo de gestão se diferencia da gestão disciplinar, fragmentada e não participativa. O intuito era dar visibilidade a essa outra forma de gestão nas praias e, consequentemente, fazer com que ela alcance os gestores. 

Uma das oportunidades que se destacou para que a gestão ecossistêmica se materialize foram o papel dos gestores locais e a cooperação entre os países da região. “É uma abordagem que tem que ser fortalecida na América Latina, principalmente se considerarmos os desafios a serem enfrentados para a implementação na região”. 

Metodologias e resultados

A gestão baseada em ecossistemas é uma abordagem sistêmica, adaptativa, participativa e pensada para o longo prazo. “Uma das estratégias de implementação da gestão baseada em ecossistemas é diagnosticar vulnerabilidades socioecológicas e responder a elas com antecedência”, acrescenta Marina. 

Para entender a possibilidade de aplicação dessa gestão em praias da América Latina e do Caribe, a pesquisadora primeiro fez uma revisão bibliográfica. Depois, ela fez um estudo de caso no litoral norte de São Paulo no qual investigou a percepção dos gestores governamentais municipais sobre a provisão de longo prazo dos serviços ecossistêmicos prestados pelas praias e sobre como melhorar a gestão local para garantir essa provisão frente às mudanças climáticas.

“Por meio de metodologias como levantamento e revisão documental (de políticas públicas, normas legais e literatura científica), workshops com gestores governamentais locais, análise de redes sociais e análise do conteúdo, a dissertação ampliou o conhecimento sobre a implementação da gestão ecossistêmica em praias”, aponta.

Com essas análises foi possível identificar que a América Latina é forte em pesquisas que pensam em sistemas socioecológicos, tem uma interação relevante entre ciência e gestão e possui abordagens que envolvem a construção de conhecimentos pela sociedade. Essas características são oportunidades na implementação da gestão ecossistêmica na América Latina. Ainda, os gestores locais foram entendidos como líderes potenciais para a implementação da gestão baseada em ecossistemas na América Latina e sua percepção entendida como uma precondição crítica a ser considerada para a transformação da gestão de praias no sentido da sustentabilidade.

Já os desafios identificados para a implementação da gestão baseada em ecossistemas nas praias dessa região foram a atual fragmentação da gestão, o enfraquecimento dos processos participativos e a descontinuidade de planos de gestão e de programas de pesquisa. Assim, para que o potencial dos gestores locais se materialize, é preciso formar uma rede intermunicipal e fortalecer a relação ciência-gestão e abordagens transdisciplinares e participativas, preenchendo também lacunas de conhecimento em termos da abordagem ecossistêmica. 

“Essa análise não apenas trouxe esclarecimentos conceituais e estruturais necessários em termos da implementação da abordagem ecossistêmica em praias, como também foi uma oportunidade de cooperação entre pesquisadores e gestores na adaptação do atual sistema de governança.”

Assim, os resultados da pesquisa não só trazem reflexões para essa implementação, como também podem ser uma base para a implementação prática dessa gestão.

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