Alpha Crucis: expedição com o navio da USP faz instalação e manutenção de ecossondas para monitorar Atlântico Sul
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- Publicado: Sexta, 07 Outubro 2022
Pesquisadores dos Projetos Sambar e AtlantECO coletaram dados para análise das correntes oceânicas a fim de entender as mudanças climáticas globais
Pesquisadores dos projetos Sambar e AtlantECO embarcaram, no final do mês de julho, no navio oceanográfico Alpha Crucis da USP em direção ao oceano Atlântico Sul para uma expedição que durou 16 dias. O projeto Sambar, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é liderado pelo professor Edmo Campos, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, e analisa as variações da circulação oceânica e da biogeoquímica marinha do oceano Atlântico Sul, enquanto o AtlantECO, financiado pela União Europeia, visa a avaliar e prever a sustentabilidade dos ecossistemas de todo o Atlântico.
A expedição foi organizada com o intuito de realizar manutenções nos instrumentos de medição usados para a obtenção de dados, além da coleta de materiais biológicos para serem analisados em laboratório. Os estudos desenvolvidos pelos dois projetos têm o objetivo de entender as mudanças climáticas globais a partir do monitoramento da circulação das águas da região Sul do Atlântico.
De acordo com Olga Tiemi Sato, professora do IO e vice-coordenadora do projeto Sambar, o Atlântico possui um papel especial na regulação do clima global. “Ele é responsável por formar o volume de água que ‘forra’ o fundo dos oceanos”, explica ao Jornal da USP. “Tanto na região Norte, próxima à Noruega, quanto na região Sul, próxima à Antártida, há o resfriamento da água na superfície devido à temperatura atmosférica.” Ao ficar mais fria, a água torna-se mais densa e vai para o fundo, espalhando-se lentamente para outras regiões oceânicas, podendo levar de séculos até milênios para retornar à superfície. Esse fenômeno é denominado Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês).
Os pesquisadores brasileiros, com colaboração de grupos da Argentina e dos Estados Unidos, possuem uma rede de observação na parte oeste da região em que contam com equipamentos de medição de alguns fatores, como temperatura e salinidade da água. As ecossondas invertidas com sensor de pressão (PIES, na sigla em inglês) são instaladas a cerca de 4.500 metros no fundo do oceano e emitem ondas sonoras em direção à superfície. “Com o tempo gasto para que o som atinja a superfície e retorne para o fundo, é possível determinar como é a estrutura interna do oceano”, explica Olga.
A primeira imagem mostra o recolhimento de um filtro, após a filtração de 10-20 litros de água, com o uso de pinças. Após o recolhimento, os filtros foram acondicionados em nitrogênio líquido (- 80°). A segunda mostra a coleta de água do mar, feita na superfície, com um balde. No convés do navio, a água foi filtrada em uma malha de 20 micrômetros para remover uma parte dos organismos fitoplanctônicos. Na última imagem, kit de filtração (onde foram adicionados filtros de 3 e 0.2 micrômetros para o estudo de eucariontes e procariontes) e uma bomba peristáltica – Fotos: cedidas pela pesquisadora
Durante a expedição, houve coleta dos dados registrados pelas sondas, a manutenção dos equipamentos e a instalação de uma PIES com correntômetro (CPIES), um instrumento que também analisa as correntes oceânicas. A partir dos dados que serão coletados com esse novo equipamento, os pesquisadores esperam analisar o impacto das mudanças climáticas na circulação meridional do Atlântico.
A vida marinha
A primeira parceria do projeto AtlantECO com o Sambar se deu devido à iniciativa de estudar os fluxos migratórios das espécies da região ocasionados pelas correntes oceânicas. A pesquisadora Gleice de Souza Santos, doutora em Oceanografia Biológica pela Universidade de Pernambuco (UPE) e membro do AtlantECO, foi responsável por coletar amostras da água da região a fim de filtrar microrganismos marinhos, como microalgas, cianobactérias (bactérias que realizam fotossíntese) e microcrustáceos. “As microalgas e cianobactérias são muito importantes para a produção de oxigênio, tanto para os oceanos quanto para a atmosfera, além de servirem de alimento para os microcrustáceos”, explica.
As amostras foram armazenadas através de nitrogênio líquido e serão analisadas em laboratório para a compreensão da diversidade de organismos presente na região. A metodologia utilizada também propicia a descoberta de novas espécies de vírus que atuam como parasitas de células de outros organismos.
A estrela mais brilhante
O Alpha Crucis foi nomeado a partir da estrela mais brilhante da constelação Cruzeiro do Sul. Inaugurado em 2012 com apoio do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa no Estado de São Paulo (PAIP) da Fapesp, o navio é a principal embarcação voltada para estudos oceanográficos do País. Sua estrutura possui 64 metros (m) de comprimento e 11 m de largura, além da capacidade para deslocar até 972 toneladas em viagens transoceânicas.
Foto: Ligia Dias