Navio Prof. W. Besnard, salvo pelo gongo
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- Publicado: Sexta, 02 Agosto 2019
Fonte: MAR SEM FIM
Navio Prof. W. Besnard: para o fundo do mar, ou museu em Ilhabela?
Nunca naveguei no navio Prof. W. Besnard, bem que gostaria. Aquilo não é um barco, é uma lenda náutica. Um ícone da oceanografia nacional. O navio foi batizado em homenagem ao russo-francês, Wladimir Besnard, cientista trazido ao Brasil pelos fundadores da USP, para organizar e dirigir o Instituto Oceanográfico em seus primeiros 14 anos. Tarefa que executou com brilho. Desde que foi aposentado, em 2008, persistia uma disputa inglória: afundá-lo, e transformá-lo em atração submarina; ou transformá-lo no primeiro museu flutuante nacional?
Venceu a esperança para o navio Prof. W. Besnard
A boa nova, deste início de 2019, veio por meio do site do jornal A Tribuna, de Santos. A matéria conta que, “O navio oceanográfico ‘Professor Wladimir Besnard’ deve içar âncora ainda neste ano e deixar o Porto de Santos, onde está atracado desde 2008…Um entendimento sobre seu futuro foi encaminhado em reunião na sede do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico(Condephaat), entre a ONG Instituto do Mar (Imar), e a Prefeitura de Ilhabela”. Na verdade, o advogado paulista Fernando Liberalli, amante do navio e suas histórias, queria transformá-lo em museu flutuante. E conseguiu, depois de muita luta.
Prefeitura de Ilhabela doou o navio para advogado paulista
Tão logo foi descomissionado, o Prof. W. Besnard, foi doado para Ilhabela que queria afundá-lo, e transformá-lo em recife artificial. Para evitar, Liberalli recorreu ao Condephaat. O site historiasdomar ouviu Liberalli:
"Quando eu soube que o navio seria afundado, fiquei indignado, fui ao Condephaat e consegui que fosse iniciado um processo de tombamento histórico, o que inviabilizou o naufrágio e forçou a Prefeitura de Ilhabela a desistir. Daí, no final de maio, a atual prefeita substituta da ilha repassou a doação do Professor W. Besnard para o instituto que eu presido. Só assim consegui salvar o navio"
Opinião do Mar Sem Fim
Venceu o bom senso! Finalmente teremos um museu flutuante. E um que tem história à beça: o ícone polar, navio Prof. W. Besnard. O Mar Sem Fim não vê a hora deste sonho se tornar realidade. O Brasil, e os brasileiros, devem sua história ao mar e aos marinheiros. É preciso cultuar nossa rica e desconhecida história náutica. Oxalá este museu seja só o início de uma série. Parabéns à Fernando Liberalli, e Instituto do Mar.
O problemão de Fernando Liberalli e seu Instituto do Mar
Primeiro, Liberalli tem que tirá-lo do porto de Santos, em seguida, recuperá-lo. As duas fases são caríssimas. Liberalli declarou ao site historiasdomar,
"O Professor W. Besnard não é um simples navio. É um monumento histórico, tanto que está sendo tombado pelo Condephaat. É isso que estou tentando preservar, mesmo ao preço de assumir despesas altíssimas, que, a princípio, ninguém teria como pagar…Só para retirá-lo da água para ser reformado custará cerca de R$ 3 milhões."
Iniciativa privada
Ainda o site historiadomar:
"Há muito trabalho a ser feito e isso exige uma grande quantidade de dinheiro, que não temos. Mas tenho certeza que vamos conseguir sensibilizar empresas patrocinadoras a nos ajudar a transformar o Professor W. Besnard num museu vivo sobre a relevância das pesquisas marinhas e das expedições brasileiras à Antártica.
Navio Prof W. Besnard – a história
O cientista que assumiu a USP, desde sempre não abriu mão de um navio de pesquisas. Para dar forma ao modelo escolhido pela Universidade de São Paulo, definiram o estaleiro A/S Mjellem Karlsen, em Bergen, Noruega, a quem coube o projeto final da embarcação.
Navio foi entregue em 1967
Em 1967, já batizado em homenagem ao seu idealizador, morto pouco antes, ele foi entregue e trazido para Santos.
23 anos navegando ininterruptamente, mais de 150 viagens, e 50 mil amostras de organismos marinhos
O Prof W Besnard navegou mais de 3.000 dias. Durante os primeiros 23 anos o navio navegou sem interrupções! Foram centenas de viagens científicas. Só de Antártica ele acumula seis. A primeira expedição polar brasileira aconteceu graças ao Besnard. Ao todo, o navio fez mais de 150 viagens!, 68 diários de bordo para contar a história, e cerca de 50 mil amostras de organismos marinhos coletados, alguns não catalogados até hoje.
Navio Prof. W. Besnard escreveu lindos capítulos da história náutica brasileira
Com a aproximação da aposentadoria, anunciada no início de 2016, o Prof. W. Besnard deixa de ser um simples navio. Torna-se um nostálgico capítulo de nossa história náutica.
Um incêndio em 2008 põe fim à carreira do ‘bravo guerreiro’
Numa tarde de novembro de 2008, um incêndio irrompeu num dos camarotes do navio fundeado na Baía de Guanabara. Não houve vítimas, e os próprios tripulantes controlaram a situação. Mas o incêndio pôs o ponto final em sua história. Mesmo assim ele continua vivo. De acordo com informações, e fotos de amigos que o visitaram recentemente,
"a casa de máquinas está em perfeito estado. Motores, geradores, tudo funcionando. E nem uma gota de água nos porões do navio."
O Besnard está no porto de Santos…
Como demonstram as fotos, apesar da idade o “coração do Besnard”, a casa de máquinas, parece em bom estado apesar de, externamente, ele estar muito mal tratado.
As duas opções: um museu, ou afundá-lo?
E esta, por acaso, não seria a melhor oportunidade para contar nossa bonita história na Antártica? Transformando o Besnard em museu flutuante ele continuaria vivo, servindo ao Brasil e ensinando às futuras gerações como foram nossos primeiros passos no Continente Gelado.
Ilhabela tem 23 naufrágios naturais
Ilhabela já tem vários naufrágios naturais. Ao todo, 23 navios afundaram na região. O mais famoso é o Príncipe de Astúrias que naufragou em 1916, na Ponta do Boi. É um dos naufrágios mais emblemáticos do Brasil. Constantemente visitado por mergulhadores.
Navio foi doado à prefeitura da Ilhabela em 2016
Em 2016, durante o mandato do então prefeito Toninho Colucci (2009 – 2016), o Besnard foi doado à prefeitura de Ilhabela. Dois anos depois, em 2018, Ilhabela decidiu que o afundaria para que se tornasse um recife artificial. Pouco depois, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), acionado por Fernando, abriu um estudo de tombamento que paralisou os planos, dando lugar à ‘papelocracia’. Liberalli, com apoio deste site, de professores da USP, e de muitas outras pessoas a julgar pelos comentários dos internautas, finalmente ganhou a causa.
Abaixo foto do Mar Sem Fim de 2006.
E outra foto recente de Rafael Arbex.
‘O Besnard é história e mais que história da oceanografia, ele é história da ciência brasileira’
Assista entrevista do Professor da USP Michel Mahiques