Pesquisadores caracterizam bioluminescência de lula gigante

Fonte: AUN - AGÊNCIA UNIVERSITÁRIA DE NOTÍCIAS

A lula de Humboldt impressiona por seu tamanho, com bico afiado e tentáculos com garras cortantes. Imagem: Reprodução.

Uma das maiores lulas do mundo, capaz de atingir até dois metros de comprimento e pesar mais de 50 quilos, é capaz, também, de emitir um brilho azul quando estimulada. A fim de tentar desvendar seu mecanismo de bioluminescência, um grupo de cientistas se uniu e, no começo deste ano, publicou seus resultados, caracterizando pela primeira vez na história a luminescência da espécie Dosidicus gigas, mais conhecida como a lula de Humboldt.

Encontrada nas costas do Chile e dos Estados Unidos, a lula de Humboldt é reconhecida por sua força, curiosidade e importância comercial. Moradora das águas frias da corrente de Humboldt, no Oceano Pacífico, ela atrai grande interesse dos barcos pesqueiros locais, que veem na venda de sua carne importante fonte de renda. Há alguns anos, porém, a professora Karin Lohrmann, da Universidad Católica del Norte, no Chile, em inspeção de sua carne, notou que ela possuía pequenos pontos amarelos por onde emitia luz azul, o que elevou essa espécie ao patamar de um dos maiores animais bioluminescentes do mundo.

A partir de então, Anderson Oliveira, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), interessado em saber mais sobre a luz azul da lula, reuniu pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para trabalhar em conjunto com Karin Lohrmann e fazer a caracterização da bioluminescência. Para isso, duas outras espécies, também bioluminescentes, foram comparadas à lula de Humboldt.

“Nós partimos praticamente do zero”, conta Anderson Oliveira. “O primeiro passo foi reproduzir no tubo de ensaio o que acontece dentro do animal. A partir do momento que conseguimos, tentamos isolar tanto a luciferina, que é o substrato que carrega a luz, quanto a luciferase, que é a enzima responsável por permitir a produção de luz neste organismo”.

Para essa segunda parte da pesquisa, Gabriela Galeazzo, em sua iniciação científica no IO-USP, dedicou-se a conseguir identificar a sequência de genes da enzima responsável pela bioluminescência da lula. Após conseguir o feito, Anderson explica que o próximo passo é clonar essa enzima: “Pretendemos pegar essa sequência e colocá-la dentro de qualquer célula que consiga expressar os genes”.

A clonagem permitiria a produção em grande escala da enzima, sem necessidade de retirá-la do próprio animal, o que poderia tornar as possíveis aplicações dessa pesquisa mais próximas da realidade. Uma dessas aplicações seria a criação de “sondas luminescentes”, nas quais o mecanismo de bioluminescência da lula “sondaria” certas substâncias em células ou mesmo em amostras de água e sedimentos marinhos: quanto maior a emissão de luz, maior a quantidade da substância de interesse presente.

Além da lula de Humboldt, Anderson Oliveira pretende também estudar diversos animais marinhos ainda não caracterizados, inclusive na costa brasileira. “Nós temos a superfície da Lua completamente mapeada, mas nem de longe temos isso nos oceanos”, explica o pesquisador.

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