Baixada Santista sofre com contaminação por metal

Publicado originalmente em: AUN - Agência Universitária de Notícias. 03/12/2014.

Análise sedimentar do Estuário de Santos e São Vicente mostra que acúmulo de metais pode gerar consequências para biota local.

porto-de-santosA Baixada Santista vem sendo alvo da poluição gerada pela industrialização e pelo crescimento populacional da área, e uma das conseqüências desse quadro é o acúmulo de metais em todo o ecossistema marítimo. Visando analisar o fenômeno, Juliê Rosemberg Sartoretto, mestre do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), realizou um estudo que faz o levantamento do nível de contaminação por metais no Estuário de Santos e São Vicente através da observação de colunas sedimentares. Estudos sobre metais em sedimentos já foram realizados anteriormente, porém nenhuma pesquisa atentou em fazer um paralelo entre o aumento das concentrações das substâncias dos últimos 70 anos, com a industrialização e a ocupação cada vez maior da região.

Para realizar a pesquisa, Juliê utilizou métodos variados durante o processo, entre eles, digestão parcial dos sedimentos – método US EPA 3050B –, digestão total dos sedimentos – método US EPA 3010 –, e análise de mercúrio por geração de vapor (US EPA). “A maioria dos metais estudados podem ser encontrados naturalmente no meio ambiente, e muitos deles têm importância vital para o funcionamento de alguns organismos. No entanto, o excesso se sua concentração pode gerar uma contaminação de todo o ecossistema. A grande acumulação desses metais no sedimento é uma evidência de que esse ecossistema está sobrecarregado desses contaminantes, e assim como ele acumula nos sedimentos, ele também acumula nos organismos e na água”, afirma a pesquisadora.

 

Mercúrio é fator de risco

Resultados finais apontaram a existência de dois ambientes distintos nos Estuários de Santos e São Vicente, o Canal de Bertioga e o Alto Estuário Santista. No Canal de Bertioga, a quantidade de metais concentrados ainda está abaixo dos níveis de TEL, adotado pela CETESB, e Nível 1 da Resolução Conama 454 (2012), que são concentrações pré-estabelecidas nas quais se observa um efeito negativo do metal nos organismos presentes dentro de um sistema. Porém, o aumento da porcentagem de metais gerado de alguns anos para cá pode encontrar suas causas em alguns incidentes ambientais, como o incêndio na Ilha de Socó nos anos 80, a proximidade com o Alto Estuário Santista, e um derramamento de óleo, também ocorrido nos anos 1980. Já o Alto Estuário de Santos apresenta concentrações elevadas e alarmantes de cobre, chumbo, zinco e mercúrio, sendo este último o mais preocupante. Desde a década de 50 pode-se perceber um aumento na concentração de metais nessa região, sendo que a agravação do quadro teve início a partir dos anos 1970, em reflexo à efervescência da atividade industrial.

“Os resultados encontrados de maior relevância foram os teores de mercúrio, que denotaram alguns pontos com alta poluição dentro do Alto Estuário Santista. Esses resultados são de suma importância para diversos setores envolvidos. Primeiramente são dados alarmantes devido à alta toxicidade do mercúrio, indicando um possível risco à biota local. Economicamente falando há um outro problema, uma vez que devido a presença do Porto de Santos a região necessita de frequentes processos de dragagem. Altas concentrações de mercúrio no sedimento impossibilitam o processo de dragagem, gerando prejuízos imensos para os setores envolvidos. Altas concentrações desse elemento no sistema também geram problemas econômicos para a comunidade pesqueira local, uma vez que, devido às legislações, não é possível a comercialização de organismos que apresentem altas concentrações desses metais em seus tecidos”, completa.

A pesquisadora ainda destaca o fato de que essa contaminação pode ser prejudicial aos seres humanos pelo consumo da carne de peixe. Alguns metais, como o mercúrio, por exemplo, podem sofrer o processo de biomagnificação, em que a concentração da substância vai aumentando gradativamente a cada nível trófico da cadeia alimentar.

 

Previsão pessimista

Caso os níveis de contaminação do ecossistema marítimo por metais não diminuam, conseqüências imediatas poderão ser notadas na biota local, já que a maioria dos organismos não resistiria ao ambiente desequilibrado. A reconstrução da degradação ambiental não é uma prática viável no caso da Baixada Santista, portanto, a melhor solução possível para a situação seria o controle da disseminação de poluentes até que aconteça uma reconstrução natural da região.

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